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RUMO À BELÉM

  • Foto do escritor: Vestal
    Vestal
  • 14 de dez. de 2024
  • 8 min de leitura

Atualizado: 14 de dez. de 2024

Eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa...
Eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa...

09/07/2024 – 20:04                                                           

Aeroporto Internacional de Guarulhos, Terminal 1

 

Cá estou eu de novo, fazendo o que mais gosto na vida: viajar, conhecer lugares e pessoas diferentes.

Desta vez sem muitas ambições, como a viagem de duas semanas para Pernambuco, nas férias de janeiro, que acabou virando livro.

Agora o tempo é curto, frio, estranho, estamos num dia de 15°, no Sudeste, e irei para 35° no Norte, Belém do Pará, um choque térmico e cultural.

Vou com a agenda organizada, mas poucas expectativas, quero descansar, caminhar, meditar e absorver uma cultura tão diferente, para nós.

A viagem é solo solo, não me animei a chamar ninguém, aliás, somente uma amiga, sabendo que não iria, por estar envolta com seus compromissos familiares na Bahia. Adoraria ter Fabrizio aqui, mesmo que custasse não escrever, pois não paramos de falar, porém, ele não pareceu disposto a uma viagem nacional, e está com foco em outros interesses.

Mesmo sem intenção de lançar outro livro, resolvi escrever de novo. Descobri que a escrita me faz bem, me faz companhia, a melhor terapia. Na escrita consigo organizar meus pensamentos, me expresso com mais inteligência, uso metáforas com maestria.

Hoje o dia está chuvoso, frio, triste e estou aqui, no ótimo Terminal 1 do Aeroporto de Cumbica. Ficamos desconectados dos demais terminais gigantes, por um momento me sinto numa pequena cidade, num singelo “aeroportinho”.

Aguardo meu voo degustando um cappuccino e escrevendo, amanhã continuo na terra da Joelma e da Fafá.   


Café do Teatro da Paz
Café do Teatro da Paz

10/07/2024 – 10:10

 

O voo foi cansativo, dor na lombar, crianças chorando, filme água com açúcar, nem lembro o nome.

Segundo filme, Frozen. Aterrissei em Belém assistindo Frozen.

Medo de pegar carro de aplicativo de madrugada em lugar desconhecido. Rua estranha, no centro, pousada feia, não fazia jus às fotos da plataforma (corremos sempre esse risco). Tudo gerou uma tensão que refletiu nas costas, custei dormir.

A bela manhã ensolarada e a simpatia da moça que limpava um quarto, abrandou a tensão.

Começo meus escritos no famoso Teatro da Paz, no café, depois de tagarelar com Fabrizio no celular. Agora vamos desbravar Belém.

Primeiro Mangal das Garças, me fez lembrar meu relato ao chegar a Recife no Natal de 2023 – adoro chegar pelo ar e de repente muda tudo, o clima, o ar, os cheiros, o sotaque. E como mudou em Belém, para começar os 20° a mais de temperatura, o cheiro, a bagunça, as ruelas mal cuidadas me fez lembrar São Luiz do Maranhão, com construções históricas caindo aos pedaços. Não posso esquecer dos 3 mil km que nos separam, de distância e investimentos

Caminhei do Mangal até a Catedral Metropolitana, fui ao Forte do Presépio, Casa das Onze Janelas, Museu do Círio e paro para almoçar nas imediações do famoso e “muvucado” Mercado de Ver o Peso, na ala turística da feirinha, pois não dei conta dos balcões que servem peixe com açaí (lotados). Preciso de mais tempo para encarar o açaí com comida.

Depois do almoço caminhei até a Estação das Docas e tomei o famoso sorvete da Cairu, fiquei empanturrada pelo resto do dia (não peçam duas bolas do sorvete), voltei para a pousada para fazer a digestão, feito sucuri que engoliu um boi.

No final da tarde participei de uma visita guiada no Teatro da Paz, cheio de história, idealizado para suprir os luxos dos barões da borracha dos tempos passados. Ficamos sempre divididos entre a beleza da arte e a sordidez da história, por detrás.

Consegui ingresso para o espetáculo “Excesso: até onde a vida suporta?”. Balé maravilhoso! o tema fazia crítica ao descarte de lixo, e os excessos que cometemos. Os bailarinos dançavam imersos em lixo reciclável, real. Excelente apresentação.

O único ponto negativo era o frio da Sibéria que fazia dentro do teatro, me tirava a concentração do espetáculo.

Termino meu dia incrível na Estação das Docas de novo, beira rio, com brisa e música boa, um drink e casquinha de siri.


  

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Caminho para Ilha de Combu
Caminho para Ilha de Combu

11/07/2024 – 10:39

 

Começo meus registros na “Casa da Nena”, na Ilha do Combu, esperando o café debaixo de uma árvore, com formigas amazônicas me fazendo companhia.

As dicas para essa viagem foram valiosas, já que pouco sabia sobre a região, além do óbvio, e conhecer a ilha foi uma delas, dica da querida amiga do Brincante, muito engajada nas questões ambientais e da cultura popular.

A Casa da Nena é uma fábrica de chocolate orgânica, iniciativa de mais uma mulher guerreira, que da necessidade de sobrevivência construiu seu sucesso. No espaço para receber os turistas tem um café, loja, além de apresentarem o processo artesanal do feitio do chocolate, vindo do cacau plantado ali, na floresta. O acesso é pelo rio, como todos os estabelecimentos da ilha.

Divino navegar no rio, adentrando a floresta, parece um sonho. Desconectada, literalmente e agradecendo.

Os pensamentos buscam pessoas que ficaram longe, mas tenho certeza que estar sozinha aqui é um bálsamo. Outrora os casais e grupos de amigos me entristeceriam, hoje fico indiferente, a escrita me faz companhia.

No restaurante beira rio, “Chalé da Ilha”, degusto uma caipirinha de cupuaçu e almoço arroz paraense, com camarões e jambu. O banho no rio é no espaço fechado pelo restaurante, como uma piscina, para segurança dos visitantes. Todos os restaurantes têm esse espaço.

Quase não parei para registros depois da estada na ilha, fiquei absorvendo o máximo a atmosfera daquele lugar, aquela calmaria.

Só tive contato com a região amazônica uma vez, quando fui a Alter do Chão, em 2019. Aqui estamos próximos das florestas, dos rios, da cultura indígena, a pele, os cabelos das pessoas não nos deixam esquecer que estamos em um lugar do Brasil que pouco conhecemos, que assistimos na televisão.  

Em uma rua de Belém vi uma pobre mulher na calçada a esmolar, com quatro crianças pequenas, com traços indígenas. Muito triste constatar que eles, os indígenas, tem buscado na cidade o que seu meio não está suprindo.

Continuando o roteiro do dia... fui perder tempo num “tal” complexo turístico Ver-o-Rio, só promessa, tudo fechado, em reforma. A cidade está se preparando para a Cop 30 (Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas) que ocorrerá em 2025. Todos os holofotes estão voltados para o evento.

Caminhei de volta às Docas, coloquei meu nome na lista de espera do passeio da orla ao entardecer, e fui a feira do Mercado de Ver-o-Peso para me divertir com as camisetas debochadas e perfumes escandalosos.

Consegui embarcar no catamarã e foi uma experiência muito gostosa, de apreciar a cidade da baía do Guajará, assistir danças típicas, acompanhados de um guia espirituoso, com pôr do sol e anoitecer.

Termino a noite na parte abastada da cidade, onde a classe média paraense se diverte em bares e restaurantes caros. Faz parte conhecer este lado da cidade, embora não me apeteça, mas conhecer o lugar abrange tudo.

O dia foi intenso. Amanhã será reservado para a parte cultural.


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Basílica Nossa Senhora de Nazaré
Basílica Nossa Senhora de Nazaré

12/07/2024 – 11:24

 

Inicio meus registros de hoje num café metido a besta, destes que se acham gourmet, caro e pretensioso. Na caminhada de mais de 1km da pousada até a Basílica da “Nazinha” não encontrei uma padaria, é o que mais sinto falta quando viajo para algumas regiões do Brasil. Só vi duas chiques ontem, no bairro rico que visitei. Padaria faz parte da cultura paulista, seja o bairro que for, sempre terá uma para apreciarmos um café, comer um doce ou pão de queijo.

A visita à Basílica foi emocionante por causa da força da fé do povo paraense, Nossa Senhora de Nazaré é considerada a Santa Amazônica, como visitar Aparecida, em São Paulo. E o Círio equivale ao Natal.

Sigo para o Museu Emílio Goeldi, mais uma dica de amiga descolada, um prédio histórico, pena estar fechado para reforma. Só aproveitei o passeio no jardim e apreciei o pequeno zoológico

Volto a escrever horas luz depois.

Aprendi nas viagens a assistir televisão local, sempre muito instrutivo. Descobri um evento, a 76ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), na Universidade Federal do Pará, cuja dança do Teatro da Paz fazia parte. Um evento sobre questões ambientais, sociais, etc. Ir até o Campus foi um capítulo à parte, sensacional. A universidade fica a beira rio, numa atmosfera deliciosa.

Retorno ao centro histórico, à muvuca, minha última noite aqui tem que ser típica. Depois de beber no “brega” (assim chamam os bares populares), perto das Docas, e do pagode na frente do Sesc Novinho, me desafio a voltar para a pousada a pé. Embora seja perto, o fato de a cidade hibernar ao cair da noite causa estranhamento.

Nas ruas ficam os desvalidos e turistas esperando carros de aplicativo, e a população some. Estufo o peito, ergo a cabeça e sigo, com a mente povoada de histórias sórdidas do programa do Gil Gomes - ouvidas na infância, dos noticiários de televisão e filmes violentos, tudo lá no inconsciente, pulando para fora somente porque é noite, embora fosse cedo. Cheguei na pousada antes das 22h, horário tranquilo para circular nas ruas de São Paulo, sempre povoadas, mas em Belém as pessoas somem, evaporam. Cheguei sã e salva.


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Café Plenitude
Café Plenitude

13/07/2024 – 10:48

 

Começo a escrever no charmoso Café Plenitude, diferente da padaria gourmet metida, do dia anterior, a caminho do centro da cidade. O dia está estupendo, céu incrivelmente azul (raramente vemos essa cor de céu em São Paulo) e um calor gostoso. Dá até dó de saber que terminarei o dia de hoje no gelo, em compensação, na minha sagrada cama, e meu banheiro cheiroso. Volto cheia de planos e animada com mais uma semana de férias que ainda tenho.

Reservei o período da manhã para visitar museus. Ontem me estendi na Universidade e gastei tempo, além de ser do outro lado da cidade, mas valeu muito a pena.

Paro no jardim do Forte do Presépio para escrever, antes de adentrar no meu último local de visitação, a exposição na casa das Onze Janelas. Saí do horrendo Museu de Arte Sacra e precisava respirar e registrar.

Antes do Museu de Arte Sacra passei pelo MUBE, um palácio suntuoso que hoje abriga o acervo da rica elite política paraense no primeiro andar, enquanto no térreo há exposições contemporâneas temporárias. O prédio é de uma beleza ímpar, recém inaugurado, mostra a opulência, poder e glória da era dos barões da borracha. 

Em seguida, ao cruzar a praça Dom Pedro ll, a sensação é controversa, saímos de lugares lindos e seguros e caímos nas ruas sujas e perigosas, como se fossemos de uma ilha a outra, atravessando pelo caos. Entro no Museu de Arte Sacra, um paradoxo entre a beleza do barroco cru e a escuridão tensa, com espaços sombrios e tenebrosos, me senti mal ali com o cheiro forte das madeiras e umidade, que nos remetem aos tempos dos domínios do clero e suas atrocidades, parece que estava no filme O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Entrei quase que por obrigação profissional. O que salvou a visita foi a exposição no térreo “Juruti-Festival das Tribos” (cujo propósito é resgatar a cultura indígena nativa da cidade, um dos mais importantes eventos da Amazônia) com fotos lindíssimas do festival, mas saí rapidamente para tomar ar puro.

Depois de recomposta do mal estar do funesto museu, entro na casa das Onze Janelas, um espaço que contrasta com a região pela sofisticação do restaurante e do espaço no fundo, idealizado para eventos, com vista para a baía do Guajará. Os espaços expositivos ficam no térreo e no andar superior, local das famosas onze janelas. A exposição “Repara aí, Mana” constitui-se de mulheres artistas, muito potente. Fecho com chave de ouro o ciclo das exposições.  

Passo no Mercado Municipal Francisco Bolonha, lindíssimo, todo em ferro, inspirado na arte nouveau, mas infelizmente deteriorado, como quase todas as construções históricas da cidade.

Na caminhada de volta para a pousada entro por ruelas de comércio popular, faço uma imersão em um misto de rua Vinte e Cinco de Março com Doze de Outubro, elevado ao cubo.

Dois detalhes importantes de registrar: o primeiro é que não paguei ingresso em nenhum espaço expositivo por ser professora, mesmo de outro estado, e o segundo que não fui importunada nenhuma vez e em nenhum lugar. Talvez por meu biótipo me privilegiar e conseguir circular por todos os cantos sem chamar atenção, por ser turista, ou pelo fato de respeitarem mulheres sozinhas, quiçá as duas coisas. Me senti segura até nos lugares mais improváveis.

O retorno para São Paulo foi tranquilo, com o inconveniente do choque térmico e um resfriado de quebra. Volto satisfeita por conhecer mais um canto do Brasil, com suas peculiaridades, enriqueceu meus conhecimentos e ganhou meu coração.



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